sábado, 12 de outubro de 2013

A NOSSA SOPA EM CADA DIA

REGRESSO
Queridos seguidores, vamos mais uma vez falar de sopa, esta e todas as que desejarem.
Para isso vou esta semana evidenciar o índice do ficheiro de receitas de sopas da colectânea de sopas tradicionais da região saloia.
Tem este índice o objectivo de dar a conhecer as sopas coligidas para poderem ser disponibilizadas a quem as desejar.
Por minha escolha, e por ser tempo de vindima,  vai a sopa de adegueiro ( ficha nº 2), pois que era principalmente esta  a época em que eram mais intensos os trabalhos nas pequenas adegas domésticas.
Fico ao dispor para responder a qualquer dúvida  ou dificuldade, bem como para receber qualquer informação e ou sugestão.
                                                                                  Com um abraço, Palmira.




DE REGRESSO  VAMOS COMEÇAR PELA SOPA,
COM PEQUENAS NOTAS DO SEU LONGO PERCURSO







 Como e quando surgiram as sopas?
As sopas  surgiram como alimento bem antes das invasões barbaras, embora só tivessem chegado a Portugal com elas, e segundo se crê, por influência céltica
A afirmação acabada de referir poderia levar-nos  a   exclui a sopa  como um dos principais e mais antigos alimentos da região em que nos encontramos, região saloia, onde habitaram os mouros, nos arrabaldes de Lisboa, ver texto  - O Saloio – publicado neste blog em 12 de Janeiro de 2013).
Porém, sabendo-se  ser a sopa uma das principais  refeições desta região, conclui-se que: ou a sopa já era usada pelos povos invasores anteriores aos mouros, ou a permeabilidade étnica cambiou também as formas de cozinhar e de ingerir os alimentos (terão sido ambas).
 Mas quando  terão  surgido então as sopas? – Os vestígios da sua existência remontam à época neolítica com a  sedentarização (4500 e 3800 a.c.) e com ela  o aparecimento  da agricultura, da pastorícia e da olaria.
Não se sabe exatamente quando nem  como se começaram  a cozinhar as  sopas, talvez  elas sejam anteriores à descoberta do fogo,  é possível  que  certos alimentos como sementes e caules duros fossem amolecidos em água para melhor se ingerirem e digerirem, poderá ser também que essas águas fossem aproveitadas com os  nutrientes  que os alimentos nela deixam. É o que se deduz, porque ao certo não sabemos.

Segundo  Françoise Aubaile , citado por Maria Manuel Balagão, in Tradição e Inovação Alimentar, 2006, não temos indicações de que  a sopa fosse conhecida dos  gregos ou dos latinos  e terá chegado à através dos celtas que chegaram à Península Ibérica  no século V antes de Cristo, pois que,  prossegue, o étimo  conhecido  de sopa é suppa, que  é um termo germânico com o significado  de ensopado, porventura  pão ensopado em líquido, também na mesma língua e segundo a mesma fonte, o termo sûfan  significa absorver e sûpan temperar.

O que não temos dúvida é de que a sopa, a nossa sopa em cada dia, associada ao pão, tem  lugar privilegiado na mesa dos portugueses, quer na frugal alimentação dos pobres, quer nas reais e ricas  mesas.


Coligimos meia centena de receitas de sopas tradicionais desta região estremenha, vamos encontrar desde aquelas  em que predomina (predominava, porque hoje em dia foram melhoradas) o caldo  mal temperado com alguma gordura e alguns vegetais de cultura pouco exigente  e até espontânea, às sopas mais completas, constituindo por si só uma boa refeição, como também  as sopas e caldos, distintamente servidos.

Cada uma das sopas desta coletânea  tem  indicado o valor nutricional, verificando-se por aí o equilíbrio  alimentar das mesmas.

É curioso apercebermo-nos, a partir da indicação  dos seus valores  nutricionais,   de como  os antigos povos  sem qualquer conhecimento nutricional ou de culinária, compuseram com os elementos de que dispunham um  alimento tão  completo como é a sopa.

O conceito que hoje temos de sopa, é a de uma entrada líquida antes propriamente da refeição, o que nem sempre assim foi e ainda hoje não tem que ser.

Uma sopa pode constituir uma refeição completa, composta de  proteínas, gorduras, hidratos de carbono, fibras alimentares, vitaminas, sais minerais e a água, a água  que ocupa o centro na Roda dos Alimentos.

A roda dos alimentos, divulgada pelas  instituições supra nacionais  da  ciência alimentar, demonstra rapidamente em forma de gráfico, a proporcionalidade de cada grupo de  alimentos que  devem compor uma dieta (ração diária) equilibrada.

Se compararmos cada uma das nossas sopas à roda dos alimentos, temos a perceção  de que elas são bastante equilibradas.

 Não obstante, e como tudo na vida, também a sopa já teve o seu período de desencanto,
 porém com o desenvolvimento da ciência e designadamente da nutrição,  associada às técnicas de culinária e aos prazeres da gastronomia, a sopa reocupou o seu devido lugar à mesa.

Suculenta,  nutritiva  e gostosa, a  sopa é  um bom  processo de saciação aliado  ao conforto  e ao prazer de saborear  um bom paladar.



                                                         SOPAS  SALOIAS

Das diversas sopas coligidas  escolhemos uma das menos conhecidas, mas que lembra neste tempo, a sopa de adegueiro. 
                                              

SOPA DE ADEGUEIRO




                                                  

Ingredientes:  (para 4 litros de sopa,10 doses )
  4dl de vinho ; ¼ dl de azeite; 200g de cebola; 2 dentes de alho; 100g de pimento ; um raminho se salsa ou se  poejos; 6 cabeças de cravinho; 100g de manteiga;  1 kg de pão saloio; água e sal que baste.                                  
Confeção:
-Descasca-se a cebola, pica-se muito fina  para dentro da panela e dá-se-lhe uma ligeira fritura no azeite.
-Junta-se o tomate descascado e cortado às rodelas finas traçadas em quartos, a malagueta picada e o pimento descascado e partido igualmente em rodelas finas  traçadas em quartos.
-Num recipiente à parte ferve-se o vinho com água e os ingredientes aromáticos (cravinho e poejos) durante cerca de 10  minutos, depois dos sabores estarem bem misturados, côa-se o líquido para dentro da panela e deixa-se ferver mais um pouco.
-Acrescenta-se a água necessária para a medida da sopa, tempera-se de sal e deixa-se ferver  durante  cerca de cinco minutos.
-Pica-se a salsa e os dentes de alho muito finamente, ou esmagam-se no almofariz, junta-se-lhes a manteiga e amasse até obter uma pasta bem ligada.
Parte-se o pão  em fatias de tamanho médio, torram-se  e barram-se, enquanto quentes, com a pasta de manteiga aromatizada com alho e salsa.                                              
-Coloca-se uma  fatia de pão em cada prato  fundo, deita-se a sopa sobre ela e serve-se de  seguida.

Nutrientes
Os nutrientes podem ser indicados por  100g ou por dose.  Este sinal  significa que os valores nutritivos são dados  por  aproximação.
Abreviaturas:
V.E.  valor energético (calorias), indicado por Kcal .; Prot. proteinas;Gord. gorduras; H.C. hidratos de carbono; F.A. fibras  alimentares.
Nutrientes por dose  (4dl = 400g):   ≈ 368 kcal ; 9 g de Prot.; 55g de Gord.; 5 g de  F.A.

Obs:
-Pode optar –se  pela manteiga já preparada, existente no mercado, evitando  o trabalho de a preparar.
-Os aromas de  cravinho e poejos podem ser substituídos por outros a  gosto.
O vinho perde o álcool com a fervura, por isso não é contabilizado nos nutrientes.
-Esta sopa, preparada antigamente pelos adegueiros em ocasiões de trabalhos nas adegas, constituía  uma refeição sem mais  nada.
-O vinho  era considerado um  alimento para dar força e o azeite um tempero para dar gosto, associado às ervas aromáticas. Quanto à manteiga e ao cravinho, são dois ingredientes  de recriação da sopa.


Indicamos, por ordem alfabética,  uma lista das sopas coligidas na região saloia

                           Sopa  (da, de, ou do) :

1          Abóbora com feijão branco e hortaliça  
2          Adegueiro
3          Bacalhau com massa  
4          Batata e cenoura com nabiças
5          Batata doce
6          Beldroegas com massaroca                                        
7          Borrego
8          Caça
9          Cachola
10        Caldo verde
11        Camarão         
12        Canja de galinha com agriões            
13        Canja de frango
14        Canja de coelho
15        Canja de peixe
16        Cardo com feijão       
17        Carne de vaca
18        Cebola com peixe
19        Cogumelos
20        Cenoura e batata com agriões
21        Chícharos
22        Couve branca ( repolho, lombarda ou flor)
23        Couve com abóbora e farinha de milho
24        Duas cores     
25        Ervas
26        Ervilhas com ovos     
27        Favas  na vagem                                                                   
28        Fava em puré com arroz       
29        Feijão  com abóbora  e hortaliça
30        Feijão branco com traçalho
31          Feijão catarino com arroz    
32        Feijão manteiga  com hortaliça
33        Feijão frade com  arroz          
34        Feijão maduro
35        Feijão verde
36        Frango do campo com feijão branco
37        Grão com espinafres  
38        Grão com massa        
39        Grão com  bacalhau
40        Grão com carne                                 
41        Horta  
42        Lavrador
43        Lulas                          
44        Marisco
45        Nabo e cenoura com ervilhas
46        Pão com azeite  (também açorda escaldada, ou sopas escaldadas)
47        Peixe  com ervas aromáticas
48        Peixe com tomate      
49        Tomate          
50        Verão






<!--[if !supportFootnotes]-->

<!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> Françoise Aubaile – Sallenave, L’ alimentacion en Méditerraneé, Préhistoire et Antiquité, CNRS/ Musée d’Histoire Naturelle, Paris, 1989, citado por Maria Manuel  Valagão, Tradição e Inovação Alimentar,2006, p.87, sgg)

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