PETISCOS SALOIOS
Quadro
conhecido, retirado de um postal ilustrado
Encontramos
hoje
com frequência , principalmente na literatura de culinária, petiscos e entradas associados sem se
diferenciar uma coisa da outra. Será que
não têm mesmo diferença? Mas se não têm
diferença porque mencionar os dois ?
Procurando
saber o significado de cada um, cheguei a uma conclusão pouco evidente.
Prossegui então a minha pesquisa não pele via etimológica, mas pela via dos usos e costumes populares.
Petisco
remete-nos para alguma iguaria gostosa.
Quanto a entrada ela remete-nos para
aperitivos igualmente gostosos, servidos no começo de uma refeição
festiva a que os franceses
chamam hors- d’oeuvre. No entanto uma entrada também pode ser uma sopa que
não deixará de ser gostosa, mas já não
anda de braço dado com os petiscos.
A ideia
que se faz de entrada, quando é servida
com o devido preceito, é a de
acepipes com a função de aguçar o
apetite , enquanto a sopa tem a
função contrária, ou seja a de saciante do apetite.
E, então
petisco? - Nós portugueses temos alguns termos caraterísticos para designar estes pequenos alimentos, que
sâo: a bucha, quando é para matar
a fome ou, como também se diz, para enganar o estômago, o mata bicho, usado mais no
sentido de dejejum ou o petisco no
sentido do prazer gastronómico
associado, quase sempre, a convivência
ente amigos. No entanto, as mesmas
iguarias, ou não tanto iguarias, também têm outra função.
O que
pode ser entendido como aperitivo de um
bom repasto, pode igualmente ser o complemento
de uma parca refeição, chamando-se, nesse caso , conduto e também sobremesa.
Nos
costumes alimentares dos portugueses de
médias posses, que tiveram ou têm a sorte
de ter à refeição sopa e um
prato, a sopa funciona como entrada e então seguidamente a comida proteica, que
tanto pode ser carne ou peixe, como
queijo ou ovos.
Verdade
é que nem todas as classes o podiam fazer
e
ainda hoje não podem, passando neste
caso a sopa a ser o elemento principal da
refeição, rematada então com algum complemento
a que se chamava conduto, comumente comido com pão.
Pelo que
acabamos de ver, petisco e conduto não diferem muito ou mesmo nada .
Porque se diz então petiscar e não se diz condutar?
Pois é, a diferença não está na qualidade da comida,
mas no ato de comer, enquanto petisco
tem uma função social associada ao prazer da mesa, conduto tem uma função
individual, associada à necessidade fisiológica de nutrição.
VAMOS ENTÃO AOS
PETISCOS
Romanos
petiscando numa taberna, publicado por Colette Lelou, Celbrasil
Começamos por Janquinzinhos, Janquinzinhos e não
Jaquinzinhos nem Joaquinzinhos. Segundo uma
versão da Vikipédia,
Janquinzinhos deriva do nome de um inglês que se chamava Charles
Junkie, o qual morou em
Lisboa e aí vendia peixe.
Foi assim que, segundo
a versão, os carapaus tomaram
o nome do seu vendedor Jankie e, por serem pequeninos,
foi-lhe posto o prefixo zinho como diminutivo.
Ainda que não
tenhamos segurança da veracidade
da versão, achamos interessante a explicação do carinhoso tratamento dado aos
minúsculos peixinhos, tão apreciados por tantos de nós portugueses.
Os janquinzinhos são verdadeiramente
um petisco que se pode servir
quente ou frio, preferencialmente
quente.
Com o seu
companheiro arroz de tomate, estes podem passar de petisco a refeição.
O acompanhamento de
bebida é obrigatoriamente (salvo para os abstémios) vinho tinto da região.
O
carapau, grande ou pequeno, é um peixe que agrada muito aos seus apreciadores,
mas só é bom muito fresquinho e deteriora-se com muita facilidade, com a
agravante de com a congelação perder qualidade de paladar.
Se
mesmo assim for necessário congela-los ponhamo-los num recipiente com água, levamo-los a congelar mergulhados nela e não os deixamos congelados por muito tempo.
Vamos
então aos Janquinzinhos
CARAPAUS PEQUENINOS
FRITOS “JANQUINZINHOS”
Ingredientes: 500g de carapaus pequenos; óleo de fritar e
farinha de trigo q.b.
Nutrientes por 100g ≈ 205 kcal; 23g de prot; 13g de
gord.
Confecção:
Retire
as vísceras aos carapaus, lave-os,
deite-lhe um pouco de sal e deixam-se ficar com ele cerca de uma hora.
Retire o sal, passe-os por farinha de trigo e frite-os em óleo quente, mas não demasiadamente.
Depois de
fritos, escorra-os sobre um papel
absorvente.
Podem servir-se
quentes ou frios, mas preferencialmente quentes.
Outro petisco bem do agrado português
CARNE DE PORCO EM VINHA
DE ALHOS
Ingredientes:
750g de carne de porco ; ¼ lt de vinho branco *; 200g de banha; 100g de
margarina; 1dl de óleo; 3 dentes
de alho; 2 folhas de louro; 1 colher de chá de colorau; sal e malagueta q.b.
Nutrientes por 100g ≈ 524 kcal; 16g de prot; 51g de gord.
Confecção:
Parta a carne aos bocadinhos miúdos e ponha-a a
marinar em vinha de alhos.
Para
o molho de vinha de alhos, junte o vinho, o alho picado, a folha de louro com o
veio central retirado, o colorau, a malagueta picada, uma pitada de sal e mexa.
Deite
a carne nesta marinada e deixe-a durante o mínimo de 8 horas, podendo ficar até
ao máximo de cinco dias, em lugar fresco, mexendo- a uma vez por dia e juntando mais vinho se o
molho secar.
É
com a carne assim temperada e curtida
que se fazem os chouriços.
Numa
frigideira, ou tacho junte as gorduras
(banha, margarina e óleo), deixe-as
aquecer e junte-lhes a carne com
o tempero, retirando-lhe o louro. Deixe fritar, mexendo de vez em quando.
Quando a carne estiver tenra e o molho
apurado, rectifique o tempero de sal
e picante e retire-a do lume.
Obs:
Como prato esta
carne fica bem acompanhada com batatas fritas, de
preferência batatas doces, como era servida nas matanças de porco.
Como petisco é acompanhada com pão saloio e
vinho tinto da região.
Deve ser comida
quente, e por isso, servida em
frigideira de barro aquecida, se arrefecer pode ser reaquecida.
Depois da
carne frita pode sobrepor-lhe um pouco de coentros picados
que, embora não sendo da tradição
saloia, o sabor dos coentros valoriza-a.
BRINDEIRAS DE MILHO COM
TORRESMOS
Ingredientes:
500 g de
farinha de milho; 300g de farinha de trigo; 40 g de fermento de padeiro; ≈4,5
dl de água; 300g de torresmos; farinha
de milho ou de trigo para tender q.b.
Nutrientes por 100g ≈ 346 kcal; 7g de prot; 16g de
gord; 42g de h.c.; 2g de f.a.
Confecção:
Prepare a massa
como para a pão de milho (ver abaixo, massa
para pão de milho).
Depois da massa
lêveda, tenda as brindeiras da mesma
forma que o pão colocando-lhe dentro os torresmos e achatando um pouco a
massa com as pontas das mãos. De
seguida leve as brindeiras ao forno.
Os
fornos de lenha hoje quase não se usam e requerem alguma experiência, para
lidar com as várias operações dos mesmos, mas
pode cozer as suas brindeiras em
forno de gás ou elétrico, como faz com
os bolos.
Depois
das brindeiras cozidas retire-as do forno, tendo o cuidado de não as sobrepor enquanto quentes.
De seguida, tal como
qualquer pão quente, partem-se à mão e comem-se
preferencialmente enquanto quentes.
PREPARAÇÃO DA MASSA DE
PÃO DE MILHO
Deite a farinha de milho e o sal num alguidar, junte-lhe
água quente e mexa com uma colher de pau.
Desfaça o fermento com um pouco de água tépida.
Logo
que a farinha de milho esteja arrefecida
junte-lhe a farinha de trigo e o
fermento e amassa-se muito bem juntando a água em pequenas gotas.
Quando
a massa estiver bem ligada e na espessura certa, o que se consegue perceber quando
ela se começa a despegar das bordas do alguidar, cubra-a e abafe-a.
Deixe a
massa levedar a temperatura moderada e estável, durante cerca de 60 a 90, minutos, até ela
atingir cerca do dobro do volume inicial.
De
seguida tenda o pão e leve-o ao forno, preferencialmente de lenha.
PREPARAÇÃO DOS TORRESMOS
Os
torresmos eram antigamente feitos no seguimento das matanças de porco, da gordura derretida.
Pode
também adquirir-se essa banha ou toucinho no talho, derreter-se e escorrer-se
bem da gordura líquida que faz a banha, os torresmos ficam sólidos e são esses que se põem nas brindeiras.
Também
se podem adquirir prontos nos talhos ou nas charcutarias, mas não prensados..
BRINDEIRAS DE TRIGO COM
CHOURIÇO
Ingredientes:
1kg de farinha
de trigo ; mais alguma para tender; 75g de fermento; ≈9 dl de água; 300g de chouriço
de carne.
Nutrientes
por 100g ≈ 299 kcal; 10g de prot; 9g de gord; 44g de h.c.;
3g de f.a.
Confecção:
Prepare a massa
como para pão de trigo (ver
abaixo, preparação da massa para pão de trigo) tenda as brindeiras da mesma forma que
o pão, colocando a massa sobre um pano enfarinhado.
Retire
a pele ao chouriço e corte-o às rodelas.
Abra a massa, que separou em pedaços, ponha-lhe dentro o chouriço
e volte a fechar, achate a
brindeira um pouco com as pontas mãos e deite-a no forno.
Quando
as brindeiras estiverem cozidas
retire-as do forno, bata com a mão para
sacudir a farinha, coloque-as verticalmente sem as sobrepor e cubra-as
com um pano.
Devem
ser comidas preferencialmente quentes e, por isso, partidas à mão, porque, diz a
tradição, que o pão quente deve ser
partido à mão. Esta regra é tão obrigatória, como a contrária, de que o pão arrefecido não pode ser partido à mão.
PREPARAÇÃO
DA MASSA PARA PÃO DE TRIGO
Desfaça o fermento com um pouco e água tépida.
Ponha a farinha num alguidar, junte-lhe o sal
e o fermento desfeito.
Faça o desenfarinhamento ( desenfarinhar é humedecer
a farinha com uma pequena quantidade
de água, antes propriamente de começar a amassar).
De seguida, vá deitando pequenas
quantidades de água e amassando.
Puxe e bata a massa na borda do alguidar,
trabalhando-a até ela fazer bolhas e
se apresentar elástica e branda.
Se a massa se apresentar dura
adicione mais algumas gotas de água e continua-se a amassar.
Ao terminar a amassadura polvilhe a massa com farinha, cubra o alguidar com um
pano, abafe-o com um cobertor e deixe a
massa levedar a temperatura moderada e
estável durante cerca de 2 ou 3 horas, até ela crescer para cerca do dobro do volume inicial.
Obs:
Há
também quem chame merendeira à brindeira,
porém a brindeira quer dizer mais do que o pão que se come à merenda.
A
brindeira era, como regra, feita em dia da cozedura do pão, sendo muito comum ela
ser o complemento da refeição da ceia
antecedida pela sopa.
Brindeira
porquê? Porque antes do pão estar cozido
está a brindeira, por isso é a primeira a sair do forno e a brindar quem por
ela espera.
Era muito comum ouvir-se antigamente a expressão, “é como as brindeiras “ atribuída a alguém que chega em último lugar e sai em primeiro.
BRINDEIRA DE MILHO COM SARDINHAS
Ingredientes:
500g de farinha de milho ; 300g de farinha de trigo; 40g de fermento; ≈ 4,5dl de água; 6 sardinhas grandes; farinha de milho ou de trigo para tender q.b.
Nutrientes por 100g
≈ 249 kcal; 10g de prot; 5g de gord; 39g de h.c.; 2g de f.a.
Confecção:
Prepare a massa
como para o pão de milho (ver preparação da massa para pão de milho em
brindeiras de milho com torresmos).
Ponha as sardinhas em água fria, pouco tempo, apenas o
suficiente para amolecer as escamas,
logo de seguida escame-as e cerca
de 1 hora antes de as tender, deite-lhe um pouco de sal.
Depois da massa
lêveda, tenda as brindeiras da mesma
forma que o pão, separando bocados de massa e colocando-os sobre um pano
enfarinhado.
Retire o sal das sardinhas arrastando-o com a mão sem deitar água.
Estenda a massa, ponha -lhe uma sardinha
dentro e aconchegue a sardinha com a massa, achatando-a um pouco com as
pontas das mãos
De seguida
leve as brindeiras ao forno num tabuleiro polvilhado com farinha, para
cozerem.
Quando
as brindeiras estiverem cozidas retire-as do forno, bata-as com a mão para sacudir a farinha, coloque-as inclinadas
no sentido vertical sem as sobrepor e cubra-as com num
pano..
Deixe-as
arrefecer um pouco, de seguida parta-as
à mão, devendo ser comidas
quentes.