terça-feira, 12 de novembro de 2013

A CASA DA AVÓ








Nota prévia:
Esta casa da avó não é de nenhuma avó nem de ninguém em especial.  Ela  é antes a representação das casas de todas as avós, ou seja das vivências passadas onde se entrecruzam todos os fatores que constituem a gastronomia. Para isso foram repiscadas algumas imagens e expressões muito comuns, recordadas ainda hoje por quem tenha boa memória.

E então:
Na casa da avó tudo é bom , mesmo o que parece não ser.
A parede  tem um cheiro bom  a cal, é branca, seca  e saudável.
O sobrado lavado semanalmente, sobre  o qual  é estendido aquele tapete de trapinhos de que “eu” tanto gosto.


E a  cozinha, ah!  a cozinha grande de pedra,  com o fogão a irradiar calor e as panelas  a borbulhar o insustentável  caldo que dela transborda  acompanhado daquele  cheirinho  a comida da avó que logo faz crescer água na boca.



E a criançada pergunta:
 - Avó o que é hoje o jantar?
- Olhem  são beiços de alguidar!
- Ah! , mas então não diz o  jantar diga a ceia.
- A ceia,  à  a ceia são morrões de candeia!
- A avó  sempre a brincar, diga então o que é que a gente  tem pa comer?
- Para comer, hoje, ah , hoje temos  bifes de cabeça chata!
Existe  na gastronomia  familiar um rosário de expressões, como estas ,  que expressam míngua de certos alimentos a que   nos habituamos e hoje não conseguimos dispensar.
Quem se imagina hoje a viver  sem a carne ou o peixe a cada refeição,  as batatas (fritas), a fruta  durante o ano inteiro,  o pão cozido em cada dia  a entrar em casa sem mais trabalho ou preocupação  que não seja comprar e pagar. Ou aquelas guloseimas, e tantas são que nem dá para  enumerar e mais  as bebidas engarrafadas ( cheias de açúcar).

Mas nada do que há hoje,  se  assemelha  ao que havia em casa da avó.







Aqueles aromas  a saltar da lenhosa chama  resplandecente de luz e cor davam à cozinha um esplendor ressaltante do meio do nada para tudo ser.


- Olhem  a sopa!






- O “comer” é sopa?
- É,  e só para quem quer!
- E quem não quiser?
- Não come! mais fica pá ti Anica!

Vamos então preparar a sopa


SOPA DE ABÓBORA COM FEIJÃO BRANCO E HORTALIÇA







Ingredientes:  (para 4 litros de sopa,10 doses)
600g de Abóbora;  400g de feijão branco seco; ½ dl de azeite; 200g de cebola; 400g de couve portuguesa;  1 raminho de salsa; 1 colher de café de cominhos; água e sal q.b.     
Nutrientes por dose  (4dl = 400g): 149 kcal ; 11g de prot.; 5g de gord.; 15 g h.c.; 12g de  f.a.
             
Confeção:
Ponha  o feijão de molho em água durante algumas horas, quando ele estiver completamente hidratado ponha-o a cozer na panela da sopa em água inicialmente fria.
Prepare  a couve, cortando-a  aos bocados pequenos  e junte-a ao feijão quando  este estiver cozido.
Prepare a abóbora (a variedade menina é a mais comum nesta região, mas pode ser outra) descascando-a  limpando-a de interior e cortando em cubos pequenos.
Noutra caçarola refogue  ligeiramente a cebola com o azeite e junte-a  na panela.
Na mesma altura junta-se a abóbora e a salsa picada e deixa-se cozer.
Quando todos os ingredientes estiverem cozidos (feijão, couve e abóbora),  tempere a sopa com sal e com os cominhos, acrescente  mais água se necessário, até à medida da sopa, deixe  levantar fervura e retire do lume.
                              

Obs:                                                      
Esta é a sopa  tradicional, mas pode  com os mesmos ingredientes, aproveitando os meios modernos que existem hoje, fazer uma sopa de puré.
Para isso coza  juntamente  o feijão, a abóbora, a cebola e a salsa. Depois destes ingredientes cozidos, junte o azeite e triture todos com a trituradora de cozinha (varinha mágica).
Prepare a couve como para o primeiro processo, coza-a à parte e junte-a à sopa(com o puré é preferível cozer a couve à parte para que o caldo gomado não pegue e deixe gosto a queimado).
Tempere igualmente com o sal e os cominhos, acrescente água se for necessário, deixe levantar fervura e retire do lume.
O sabor dos cominhos liga muito bem com o feijão branco e neutraliza o sabor acentuado da abóbora menina. Pode, no entanto, substituir os cominhos por outro sabor a gosto.

                                 E  agora os bifes de cabeça chata



Aqui os temos. Um prato de sardinhas panadas.


As tiras de   pimento são para fazer o ramalhete ou para indiciar um arroz de pimentos para acompanhamento.
Ingredientes:
1kg de sardinhas; 1 dente de alho; 200g de farinha de milho; 2 folhas de louro;  óleo e sumo de limão q.b.                    
Nutrientes por 100g  343 kcal ; 19g de prot.; 23g de gord.; 14 g h.c.; 0,5g de  f.a.
             
Confeção:
Ponha  as sardinhas na água um bocadinho para lhe retirar melhor as escamas.
Escame-as ,retire- lhe as vísceras, as cabeças e a espinha central, deixando-as espalmadas.
Apare  a barbatana do rabo e retire  a maior quantidade possível das restantes espinhas.
 Tempere com sal, malagueta picada, alho picado, louro com a nervura central retirada e sumo de limão.
Deixe tomar o tempero durante uma a duas horas.
A seguir , sacuda  o tempero com a mão, passe  as sardinhas por farinha de milho e frite-as em óleo quente, mas não demasiadamente.
Depois de fritas escorra-as sobre papel absorvente e sirva-as preferencialmente quentes.

Obs:
Tome cuidado com o sal e com a malagueta, não esqueça o que foi  recomendado  na última publicação em  07.11.2013 sobre malagueta,  que além de um bom tempero, é também um  alimento benéfico para a saúde, mas, como tudo,  em excesso pode ser contra producente no tempero e até prejudicar à saúde.
Uma nota sobre sardinha e saúde alimentar.
Os nutricionistas recomendam hoje a sardinha como  um bom alimento por ser  rica em  gordura portadora dos muito falados  ácidos Omega 3,  benéficos para a saúde.


                                                                                              









6 comentários:

  1. Olá Palmira...
    Que belo texto sobre tempos já tão distantes mas que estão tão presentes na nossa memória...!!!!
    Adorei recordar.....
    Beijinho
    Albertina

    ResponderEliminar
  2. Olá Palmira, bom dia.
    Será que já consigo comentar?
    Beijinhos.
    Leandro Guedes

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Leandro espero que a minha resposta chegue até ao destino, é que ainda não confio em mim. Obrigada pelo seu comentário. Palmira

      Eliminar
  3. Olá Palmira boa noite, como está?
    Como vai a sua saúde? Desejo que tudo esteja bem consigo.
    Não sei porquê, não consigo publicar comentários no seu blogue. É um assunto que temos que ver, mas reparei que a Albertina conseguiu. Talvez seja do meu computador.
    Este seu artigo – Casa da Avó – está uma autêntica delícia.
    Num ápice veio-me à memória tantos ditos da minha Avó materna e minha Mãe que a troco disto ou daquilo, se saíam com este tipo de expressões que por vezes me deixavam intrigado, na minha inocência de criança.
    Mas termos como:
    - Oh avó o que é a comida?
    - são línguas de perguntador
    - Oh Mãe o que é a comida?
    - são beiços de alguidar
    - Avó o que se come hoje?
    - bifes de cabeça chata,
    eram ditos no dia a dia e faziam parte da nossa aprendizagem da vida.

    Que saudades dos bifes de cabeça chata, parece que lhes sinto o sabor, com aquele gostinho a limão.

    Muito obrigado por este reavivar das memórias de infância e parabéns por este belo artigo.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Leandro finalmente isto parece que está a funcionar, o seu elogioso comentário chegou cá. Obrigada . Palmira

      Eliminar