domingo, 29 de novembro de 2020

FILHÓS DE NATAL

 

FILHÓS DE NATAL

 

 Meus amigos e amigas, estamos a chegar à quadra de Natal, data em que fica mais vivo o sentimento de família, de amizade e de partilha. Mimos da Terra, não fugindo aos fins para que foi criado, valorizar o que é nosso, o que é da nossa terra, por isso vem  partilhar  sentimentos de vivências  que não se podem perder, como as filhós de Natal.

As filhós, embora, tal como a literatura disponível nos informa, não sejam originalmente portuguesas, mas herdadas dos árabes, elas são presença em todo o país, principalmente pela quadra de Natal. Diferentes de região para região e até de família para família. 

Este ano propus-me dar uma volta à procura de filhós e outras iguarias de Natal. Fiquei pelas duas dezenas e mais algumas, não cheguei às três dezenas, e não cheguei, não foi porque não encontrasse muitas mais, mas porque as que compilei são suficientes, em meu entender, para demonstrar quão fértil é o país nesta apreciável iguaria.

 Umas sem publicação e passadas geracionalmente, outras publicadas em várias obras disponíveis, outras  retiradas de vários sites da   internet, devidamente referenciados, as fontes são inesgotáveis, tanto mais que a iniciativa criadora não para e, felizmente desde que não descaraterize.  

 As mais tradicionais são as de massa lêveda, curioso, porque sendo as filhós de origem árabe não condiz com o seu costume de  comer o  pão ázimo. Na verdade também as  temos ázimas, mas as lêvedas prevalecem, terá a explicação em outros costumes mais antigos, provenientes da romanização,  de levedar a massa do pão, já que  as filhós têm por base a mesma matéria, a farinha de trigo. Este  já é um assunto de maior aprofundamento que não cabe nesta singela introdução às filhós, onde as lêvedas estão em maioria. 

Sejam elas  em forma de bola, a que também  se chama sonhos, sejam as  estendidas,  e as de nova criação, cozidas no forno. Entre elas, ou seja,  entre cada tipo, são fundamentalmente  iguais, ou muito parecidas. As pequenas diferenças, mais podem importar pelo nome da terra de origem e do ego territorial, que   cada pessoa tem  pelo seu berço natal.

Depois, as filhós parece terem um certo secretismo que não é revelado por receitas, sejam elas passadas de boca em boca, sejam escritas, em obras mais ou menos credenciadas. O seu segredo está principalmente nas mãos de quem as trabalha.  

  As  receitas que hoje vou apresentar são as mais usadas na região saloia, onde me encontro, não por serem melhores, nem piores, mas por serem as da minha muito amada terra saloia. Na próxima continuaremos a falar de filhós, as ázimas e  as de forno.


FILHÓS SALOIAS  


     
 


Ingredientes:                                  

500g de farinha ,  5 ovos (1 ovo por 100g de farinha),        

25g de fermento de pad. em barra , ou 1 carteirinha de 11g,

1 c. de sopa de azeite ( ¼ dl), ± 2dl de água,

 1 pitada de sal, óleo , açúcar e canela que baste.


Confeção:

Dilui-se o fermento com um pouquinho de água tépida e junta-se com a  farinha numa tigela ou na batedeira, junta-se também o azeite, a aguardente e uma parte da água e começa a  amassar-se, trabalhando muito bem a massa e adicionando a água aos poucos.

 Quando a massa começa a estar ligada juntam-se  os ovos um de cada vez, adicionando o seguinte depois do anterior estar absorvido. 

 Depois da massa   bem amassada, isto é, quando ela se apresenta bem macia e homogénea, ajeita-se na tigela, tapa-se  com um pano sobreposto por um cobertor, e deixa-se levedar em local de temperatura tépida e constante, durante 2 a 4 horas, até ela atingir cerca do dobro do volume. 

Quando  estiver lêveda , retiram-se colheradas de massa, deitam-se na frigideira com óleo suficiente para que as filhós se virem , se for preciso ajudamos com um garfo para que fiquem fritas por igual.

 O óleo deve estar a uma temperatura moderada, cerca de  180ºC para que as filhós fiquem passadas e não queimadas. Também não deve estar a temperatura tão baixa que as filhós fiquem  impregnadas de gordura, aliás esta é regra para qualquer  frito.

 Depois de fritas, escorrem-se sobre papel absorvente e seguidamente passam-se por açúcar e canela. 

 


FILHÓS SALOIAS  DE ABÓBORA

Ingredientes:
1 kg de abóbora-menina cozida e escorrida, 
1 kg de farinha de trigo, 50 g de fermento de padeiro, em barra, ou o equivalente do mesmo, mas seco (1 carteirinha e mais meia), raspa de uma laranja,  6 ovos, ½ dl de aguardente. 1 pitada de sal, óleo, açúcar e canela que baste. 

Confeção:
Descasca-se a  abóbora, retira-se-lhe as sementes e coze-se em água com um pouco de sal. Quando  a abóbora estiver cozida, retira-se  da água, escorre-se  muito bem e deixa-se arrefecer. Depois de fria,  desfaz-se à mão, ou passa-se pelo passe  vitte.   

Desfaz-se o fermento  com um pouquinho de água tépida e junta-se com a abóbora numa tigela grande, ou alguidar. Junta-se também a aguardente e a raspa de laranja,  mexe-se e vai-se juntando a farinha misturada com o sal. 

 À medida que se vai amassando, vai-se vendo se é preciso adicionar alguma água, depende da humidade da abóbora. 

Quando toda a farinha estiver envolvida na massa juntam-se os ovos, um de cada vez, adicionando o seguinte, quando o anterior estiver absorvido. 

Depois da massa   bem amassada, isto é, quando ela se apresentar bem ligada e homogénea, deixa-se  levedar dentro da  tigela (ou alguidar), tapada com um pano sobreposto por um cobertor, em local de temperatura tépida e constante, durante  2 a 4 horas, até  ela atingir cerca do dobro do volume. Ver se a capacidade da tigela ou alguidar suporta o crescimento da massa,

Quando a massa   estiver lêveda, retiram-se colheradas dela e  deitam-se na frigideira com óleo suficiente para que as filhós se virem e fiquem fritas regularmente, se for necessário ajuda-se com um garfo.

 O óleo deve estar a uma  temperatura moderada, cerca de 180ºC, para que as filhós fiquem passadas e não queimadas. 

Depois de fritas, escorrem-se sobre papel absorvente e passam-se  por açúcar e canela.