Páscoa, na língua hebraica pessach, significa passagem e representa para os judeus o início da sua libertação marcada pela travessia do Mar Vermelho.
Para os cristãos a Páscoa representa a ressurreição de Cristo, logo também a passagem à libertação.
Sendo a religião cristã e a judaica derivadas do mesmo tronco comum, compreende-se que ambas tenham o cordeiro como símbolo de libertação e façam do seu sacrifício igualmente um acto religioso.
A gastronomia de um povo tem sempre a ver com algo de mais do que o puro acto de comer para se nutrir, ou para dar satisfação às papilas gustativas.
Mesmo não sendo, na maioria dos casos, o consumo de carne de borrego pela Páscoa, um acto religioso, ele não deixa de estar associado a princípios de arreigamento religiosos, sobretudo judaico, seguido pelos cristãos.
Em regiões de Portugal, onde as comunidades judaicas tiveram mais influência, ainda hoje se pratica com ritualidade religiosa do sacrifício do cordeiro pascal.
Temo-las, por exemplo, em Castelo Vide no Alto Alentejo, que se tornou, por isso mesmo, um ponto de referência turística nesta quadra, independentemente do credo religioso. Foi lá que fomos encontrar um característico prato de borrego, o cachafrito.
Na gastronomia a designação de cordeiro deu lugar ao borrego, ou cabrito. Na verdade é o ovino, ou caprino jovem da Primavera que se tornou em Portugal e não só, uma referência gastronómica da quadra pascal.
O borrego aparece cozinhado das mais variadas maneiras prevalecendo o assado no forno, o guisado, o ensopado, também em sopa, em açorda e em caldeirada.
O cachafrito só mesmo em Castelo de Vide o encontramos.
Também o coelho é outro animal associado à Páscoa não tendo já a ver com a simbologia religiosa do cordeiro, mas com a da fertilidade. É uma tradição advinda dos países do norte da Europa, que se tem vindo a estender para sul, todavia a sua implantação deve-se mais à facilidade de criação deste animal e daí ser mais consumido nas zonas rurais, sobretudo por famílias mais modestas com impossibilidade de ter cordeiro à mesa. Nas famílias mais abastadas é o borrego, sendo o coelho deixado para guisar com ervilhas no domingo de Pascoela.
Outra, tradição são os ovos da Páscoa, que datam da antiguidade e simbolizam o nascimento e a vida. Esta tradição chega até nós proveniente dos países do norte da Europa, tal como os coelhos, faz sentido na medida em que é na Primavera os ovos são mais abundantes. Outra razão terá a ver a indústria de doçaria, sobretudo a de chocolate, que criou uma apelativa oferta dos ovos de chocolate.
Como doçaria mais ou menos tradicional, temos em primeiro lugar o folar por todo o país, e que nesta região ( Torres Vedras, de usos e costumes saloios) se distingue pelo característico sabor da erva doce.
Além do folar, temos outros bolos de massa lêveda próprios da quadra pascal como, a coroa e a trança da Páscoa e o bolo de caracóis; de massa areada, entre outros, temos os bolinhos secos de amêndoa . E como sobremesa, o arroz doce em primeiro lugar, e mais requintadamente os papos de anjo e o toucinho do céu.
Porém são as amêndoas cobertas que fazem as honras da época, sendo muito comum ouvir - se chamar amêndoas a qualquer presente dado por ocasião da Páscoa, e até no sentido irónico a algum acontecimento menos bom ocorrido por ocasião desta quadra.
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