MIMOS DA TERRA
Meus amigos, deixei de comunicar convosco desde 2013, não
consegui fazer o tempo esticar. Por motivo do grande
malefício que o COVID veio causar a todos, fiquei eu
muito mais por casa e disponível para realizar tarefas que aguardavam, outras
ainda aguardam a sua vez de realização. Uma delas é renovar o
blogue Mimos da Terra *e ao mesmo tempo informar
que o blogue À Mesa Com* , também moribundo desde
2015 ainda não morreu e vai reaparecer. E que também, irá surgir outro
designado, Cadernos de Gastronomia.
* Por existirem outros sites com o mesmo título , deverá Mimos da
Terra ser procurado por mimosdaterrablogspt.com ou mimos da terra, palmira cipriano, o mesmo para À Mesa Com, que por existirem outros, deve ser procurado por á mesa com, palmira cipriano.
Mimos da Terra
Mimos da Terra é um blog
ligado à terra, Terra
Planeta que é de todos e
Terra Natal que é de cada um.
Foi criado em 2011 e manteve-se mais
ou menos até 2013, com temas, muito gerais, ligados
principalmente à gastronomia local e continuará na mesma linha.
Uma linha de preocupação com o encontro de valores que os costumes e
tradições transportam em cada dia até à nossa mesa.
Sete anos passados, vem de novo à luz com a primeira publicação a propósito
desta quadra de Todos os Santos.
PÃO POR DEUS
Estamos na Quadra dos Santos, acentuada nesta zona de Torres Vedras, com o
peditório das crianças em animado chilreio à porta dos vizinhos, familiares e
amigos, chamando por “ Ti Maria Pão por
Deus”, seja quem for essa Ti Maria. Este é o uso da minha aldeia.
Aqui temos uma fotografia com alguns
anos, onde os meninos, já tendo dado o seu
grito, aguardam o donativo.
Espero que estes meninos, hoje já adultos, não me levem a mal
a publicação e que os seus filhos, venham a emita-los, para continuação do Pão
por Deus.
A história da celebração desta quadra é tão longa como recuada, ela provem
já do tempo dos romanos e pode intricar mais do que um sentido.
O equinocial em louvor ao deus sol pelas colheitas. Como talvez também, mais recente,
o louvável sentido de solidariedade, entendido por várias feições. Mas, partimos
da que se conta relacionada com a catástrofe do terramoto de Lisboa em 1755. Tal desgraça, acontecida no
dia 1 de Novembro, deixou muita e muita gente, sem abrigo nem comida. As
populações atingidas puseram pés a
caminho dos arredores, onde puderam encontra o mais necessário de comer para sobreviverem.
Essa onda de solidariedade não foi esquecida por muito tempo, e o gesto
continuou. Hoje, ainda que não por
necessidade, e nem mesmo com consciência
da grandeza do ato, mas por
tradição. Tradição, mais desempenhada pelas crianças que pelos adultos.
Para os adultos, o que não pode faltar, neste mesmo dia, são as broas a que
também se chama Pão por Deus. As broas dos Santos são uns bolinhos rústicos,
que pelas suas caraterísticas, andam muito próximo dos usos romanos, logo pelo
adoçante, agora com açúcar, mas antes da vulgarização deste seria com mel, os
frutos da colheita outonal e a indispensável erva doce.
Esta aromática mediterrânica e tão
nossa conterrânea, desprezada por campos incultos e, que nesta ocasião do ano, se esgota nos supermercados da
cidade.
Para quem goste de meter a mão na massa, e porque o que é feito por nós tem
melhor sabor, aqui deixo uma, uma não,
três receitas desta quadra: as broas dos
santos, o pão doce e o bolo saloio. Com desejo de que sejam saboreadas com
muito gosto.
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BROAS DOS SANTOS
1kg de farinha, 500g de açúcar, 200g de margarina,
½ dl de azeite, 50g de fermento de padeiro,
1 colher de chá de bicarbonato, 100g de nozes,
50g de pinhões, casca de ½ limão,
100g de erva doce,
500g de farinha de milho,
Nutrientes por 100g ≈
V. E.
Prot.
Gord.
H.C.
F.A.
kcal
g
g
g
g
422
7
16
63
2
Confeção:
Ferve-se a casca de limão na água e deixa-se arrefecer até ficar morna.
Deita-se num alguidar a farinha, o açúcar, o bicarbonato, a erva doce e o sal. Misturam-se todos estes ingredientes em seco. Desfaz-se o fermento num pouco da água tépida da fervura do limão e deita-se na farinha, abrindo um espaço de lado. Do noutro lado deita-se o sal, que não deve ficar misturado com o fermento. Uma pitada de sal apenas, porque se trata de um doce e não de um salgado.
Deita-se de seguida a margarina amolecida e o azeite e começa a amassa-se quase em seco, chama-se a esta operação desenfarinhamento.
Continua a amassar-se deitando pequenas gotas de água, mas com muito cuidado, porque a massa deve ficar homogénea, mas dura.
Quando a massa se começa a despegar das mãos e a ficar um pouco rendada e elástica, é sinal de que a amassadura está pronta.
Nesta altura juntam-se as frutas envolvem-se bem na massa, faz-se uma bola no próprio alguidar, cobre-se com um pano de algodão branco, abafa-se com um cobertor e deixa-se a massa levedar em ambiente tépido e estável durante umas duas horas ou mais, até ela atingir cerca do dobro do volume inicial.
Prepara-se um tabuleiro de ir ao forno, untado e forrado com papel vegetal também ligeiramente untado , ou polvilhado com farinha.
Depois da massa leveda, retira-se do alguidar, estende-se sobre uma superfície lisa, trabalha-se mais um bocado e de seguida estende-se com as mãos e cortam-se pequenos bocadinhos que se moldam, com as palmas das mãos, em forma de pequenas bolas que vão dar as broas.
Colocam estas no tabuleiro que se preparou distanciados umas das outras, contando com o que vão crescer. Aguardam cerca de 30 minutos para voltarem a levedar e leva-se o tabuleiro ao forno previamente aquecido, a temperatura de 200ºC durante 20 a 30 minutos, passando, a meio da cozedura, para temperatura mais baixa. Quando as broas se apresentarem cozidas, retiram-se do forno e colocam-se sobre uma rede ou diagonalmente noutro tabuleiro, sobre um pano até arrefecerem. Depois de frias podem sobrepor-se e guardarem-se, até três a quatro semanas em recipiente bem fechado, para que não amoleçam.
==========
PÃO DOCE
O pão doce, que também faz parte do pão por deus, está hoje quase caído em desuso, talvez que, por ser feito de farinha de milho e se assemelhar do antigo pão que nesta região alimentou muito tempo as populações mais pobres, ele não seja bem recordado. Porém hoje, em que tudo é comprado no supermercado, a farinha de milho é mais cara que a de trigo. Assim, por ser mais caro, poderá o pão doce voltar a ser apreciado. A receita fica, para não esquecer.
Ingredientes:
500g de farinha de trigo,
50g de fermento de padeiro, 1 dl de azeite,
50g de erva doce,
casca de ½ limão, raspa de1 laranja,
1pitada de sal fino, ±3dl de água,
facultativamente pode juntar-se nozes.
Nutrientes por 100g ≈
V.E.
Prot.
Gord.
H.C.
F.A.
kcal
g
g
g
g
327
5
5
66
2
Confeção:
Desfaz-se o fermento com um pouco de água tépida
Ferve-se a casca de limão, deixa-se a água arrefecer um pouco.
180g de mel, 1,5 dl de água,Deita-se a farinha de milho num alguidar e escalda-se com a água da fervura da casca do limão um pouco arrefecida da fervura. Mexe-se a farinha com uma colher de pau e, logo que se possa por as mãos, amassa-se um pouco e quando ficar tépida junta-se a farinha de trigo e os restantes ingredientes: mel, açúcar, erva doce e raspa de laranja e o fermento ( este que não suporta temperatura muito alta , nem muito baixa) um pouco de água com cuidado, esta vai-se deitando aos poucos.Envolvem-se todos os ingredientes e amassa-se bem até a massa se apresentar bem ligada. Enquanto se amassa, passando os dedos pelo azeite envolvendo-o assim aos poucos, até a massa ficar em boa consistência. Se ela se apresentar um pouco dura vai-se deitando mais algumas gotas de água e continuando a amassar. A água deve deitar-se sempre com muito cuidado, para que não aconteça ser demasiada. Se isso acontecer, junta-se mais um bocadinho de farinha e amassa-se para terminar.
Estando a massa na consistência certa polvilha-se com farinha de trigo, cobre-se com um pano, abafa-se com um cobertor e deixa-se levedar a temperatura moderada e estável, durante cerca de uma hora, ou até ela ficar aproximadamente o dobro do volume inicial.
Depois da massa leveda, tende-se o pão ( a receita dá para 4 ou 5 pãezinhos pequenos), coloca-se num tabuleiro ligeiramente untado com gordura e polvilhado com farinha. Devem ficar distantes, contando com o que crescem. Deixam-se mais uns 30 minutos para que voltem a levedar e seguidamente levam-se ao forno pré aquecido a a temperatura de180 C durante 30 a 40 minutos.
Depois de cozidos retiram-se do forno colocam-se sobre uma rede, ou inclinados, até arrefecer.Depois de frios podemos guarda-los por mais que uma semana com boa qualidade, antigamente guardavam-se até ao S. Martinho.
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BOLO SALOIO
Nota prévia:
O bolo saloio é também lembrado nesta quadra e, embora não se possa considerar tradição, há famílias, onde ele é presença habitual.
Na realidade o sabor a erva doce assemelha-se ao das broas.
100g de banha, ½ dl de azeite,
2 ovos, 1 colher de chá de canela,
25g de erva doce, 2 c. chá de fermento,
Casca de ½ limão, 1 c. café de sal fino
± 25g de banha para untar a forma
Uma forma de chaminé.
Nutrientes
por 100g ≈ |
V. E. |
Prot. |
Gord. |
H.C. |
F.A. |
kcal |
g |
g |
g |
g |
|
425 |
5 |
21 |
57 |
1 |
Confeção:
Unta-se a forma com banha
e forra-se com papel vegetal, também ele ligeiramente untado.
Ferve-se a casca do limão com a água e deixe-a arrefecer.
Junta-se a banha amolecida, o açúcar, o mel, os ovos inteiros,
a canela, a erva doce e o sal, mexem-se
estes ingredientes, misturando-os bem. De seguida junta-se a farinha, peneirada
com o fermento, e alternada com a água fervida com a casca de limão.
Bate-se tudo muito bem até a massa formar ampolas.
Deita-se na forma e leva-se a cozer em forno previamente
aquecido e moderado, durante cerca de 30 a 40 minutos.
Retira-se do forno e desenforma-se depois de frio.
Notas:
1) A forma deve ser de chaminé, para que o bolo
fique com a cozedura mais regular. Também
Deve ser forrada com papel, não só para que o bolo não
queime dos lados, como para que desenforme melhor. Este bolo tem tendência a
pegar à forma, para evitar isso, ao desenformar, puxa-se pelas pontas do
papel.
2) Não é um bolo bonito, mas é muito bom e pode
melhorar-se recheando-o com frutos
secos, principalmente nozes, que o valorizam muito e não lhe retiram em
nada as características.
3) Sendo recheado, juntam-se os frutos secos, depois
da massa preparada, envolvendo-os bem nela. Os frutos podem ser mais ou menos partidos, conforme a
preferência.
4) Esta receita é tradicional da região
saloia e encontra-se também publicada por Selecções de Reader’s
Digest em Tesouros da Cozinha Tradicional Portuguesa,1984,
referida à Província da Estremadura.
Um abraço, até breve, voltarei antes do próximo Pão por Deus
Fico muito contente por saber que vai retomar o seu blog e que além disso ainda criou outros que serão, naturalmente, muito interessantes tenho a certeza.
ResponderEliminarMuitos parabéns Palmira
Um abraço
Boa malha, Palmira! Como diziam na minha terra...
ResponderEliminarHá que continuar, nós agradecemos.
Olá Palmira, boas noticias. Neste tempo de pandemia estamos mesmo a precisar de coisas boas e doces. Bjs e boa saúde.
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