sábado, 29 de setembro de 2012

Confeção e Conservação de Doces de Fruta


                                                           
                                                                                    
Nota prévia:                                                                          
Meus amigos  e seguidores , já perceberam ou vão perceber que os assuntos  de Mimos da Terra  andam  todos à volta de gastronomia .  Tratem eles  temas  mais  de natureza histórica   do ato de comer,  da economia produtiva ou da arte culinária.
Hoje venho falar-vos  dos preparativos  para  confeção e conservação de doces de fruta.
Estamos a entrar no Outono, estação do ano em  que  estas  tarefas  mais lembram, hoje menos que no passado, é certo, mas como o saber não ocupa lugar,  e o prazer de fazer tem lugar certo, vamos experimentar  as nossas compotas. E, no fim saboreá-las   e compara-las com  as de fabrico industrial.

Começamos pelo princípio:

1.      DOCES DE FRUTA

Os frutos são componentes do principal  grupo dos alimentos fornecedor de vitaminas. No entanto, o seu valor não pode ser considerado nos produtos seus derivados que sofreram grande e prolongada ação do calor, como é o caso dos doces, passando o seu maior valor a encontra-se no grupo dos hidratos de carbono, devido à grande quantidade de açúcar que a operação exige para permitir a conservação do produto resultante da transformação.

Para além dos frutos e da conservação pelo açúcar existem outros  produtos da terra  e outros processos que não apenas o do açúcar, sendo mais conhecidos e ao alcance doméstico, a conservação pela salmoura, pelo vinagre e pela desidratação. Hoje vamos tratar de doces.

 Então, que tipo de doce queremos fazer?  compota, geleia ou pasta? 

Os doces de fruta de fruta podem apresentar-se de três formas: compotas, geleias ou pastas, consoante o processo de  transformação.

1.1 A compota é um produto resultante da operação de transformação e conservação da fruta pela calda de açúcar que lhe confere uma consistência entre o pastoso e o gelatinoso, possível de distender sobre  pão ou outros alimentos secos.

1.2 A  geleia resulta da extração de pectinas dos frutos através da fervura em calda de açúcar.

1.3 A pasta corresponde à concentração da polpa de fruta com o açúcar, tipo de marmelada. Daí encontrar-se em alguns livros a designação de marmelada de pera, de maçã, etc., mas na  realidade esses doces são pastas que tanto podem ser perada se for de pera, maçãzada se for de maçã ou qualquer outro fruto.

 Temos na região um doce característico que é a uvada, que  embora não sendo uma pasta, como a marmelada por exemplo, também não é uma compota porque não é preparada em calda de açúcar, mas em mosto de uva.

 Este doce por exclusão de geleia ou de pasta enquadramo-lo nas compotas.

A partir do processo básico de qualquer dos tipos de produto (compota, geleia ou pasta)  e seguindo corretamente as técnicas  de processamento, quer da preparação e  confeção dos frutos, quer da embalagem  e arrumação dos mesmos, podemos  compor qualquer receita desde que a matéria prima  (frutos ou outras) se lhe adeque.

Para isso devemos escolher a compatibilidade das matérias e ver como devem ser tratadas para obtenção de bons resultados.

Não menos importante é o envasilhamento, os recipientes devem ser   adequados, muito bem limpos e desinfetados. Depois do produto embalado deve ser  rotulado, a rotulagem  é também m uma operação importante, ela deve identificar o produto. E  finalmente a arrumação  que deve ser em lugar seco e arejado.

2.    ALGUMAS NOTAS  ANTES DE POR MÃOS À OBRA:

·       Para obtenção de resultados satisfatórios das operações que nos propomos levar a efeito com a
      preparação e conservação de doces de fruta devemos  atender aos seguintes requisitos:

      Primeiro, boa  disposição psicológica para o efeito, partamos  para esta agradável  tarefa como para
                        um  passeio pela natureza, ou uma diversão da nossa preferência.

Segundo, preparar o  campo de trabalho, munindo-mos  do equipamento necessário, mas não
                       supérfluo.

     Terceiro,  usar  uma roupa com que nos  sintamos  bem e à vontade, que possamos  sujar  sem
                       estragar,   não se dispense um avental bem do  nosso gosto.

     Quarto, não tenhamos  pressa, faça-se  das operações um laser, envolvamo-nos e  empregamos  algo
                    da   nossa personalidade.

Quinto, deixemos  o trabalho bem acabado; espaço de trabalho limpo, embalagens bem preparadas,                 rotuladas e bem arrumadas.

     Finalmente, revejamo-nos  no nosso  trabalho, gozemos  o prazer de olhar para os resultados.

 

3. EQUIPAMENTO E MATERIAL NECESSÁRIO:

Fogão
Balança
Alguidar ou tigela grande
Panela ou tacho
            Mesa ou bancada de trabalho
Faca
Colher de pau
Colher de sopa
Escumadeira
Concha
Termómetro (útil, mas dispensável)
Avental
Panos de cozinha
Pegas
Frascos e tigelas
Funil de enfrascamento.
 

3.1 Loiça adequada para confeção e vasilhame

·       Os tachos ou panelas preferenciais para a confeção de doces de fruta em geral, onde estão incluídos os vários processos, são os de cobre, mas como esses pertencem ao passado, os de um bom alumínio ou inox  substituem-nos muito bem.

·       É preferível que sejam de fundo côncavo, devendo ser de capacidade superior a pelo menos um quarto da medida nele introduzida.       

·       O vasilhame preferencial para geleias ou compotas são os frascos de vidro bem vedados, para as pastas como a marmelada  adaptam-se melhor as tigelas.

 
4. OPERAÇÕES  DE TRANSFORMAÇÃO:

·       Existem diversos processos tecnológicos de transformação e conservação de frutos, os mais conhecidos e ao nosso alcance são os obtidos pelo açúcar, pelo sal, pelo vinagre e pela desidratação.

·       Nós vamos preparar doces de fruta, por isso vamos usar os processos de conservação pelo açúcar. Das   receitas, apenas duas   são de pastas salgadas, designadamente o schutney e o ketchupe.

·       Nos  processos  de transformação e conservação existem três que são aqueles que vamos preparar, designadamente compotas, as geleias e as pastas.

·       Estes diferentes produtos podem obedecer ao gosto e preferência dos operantes e consumidores, mas eles estão também dependentes da aptidão dos frutos.

·       Os frutos de caroço, (prunóideas), as bagas (uvas) e os de gomos (citrinos), bem como os pepóneos ( abóbora, pepino, melão e melancia), prestam-se mais para compotas, embora também se façam geleias com eles e até pastas. Enquanto as pomóideas (peras, maçãs e marmelos) para alem de resultarem bem nas compotas e geleias,  resultam igualmente muito bem  em pastas duras, principalmente os marmelos e as maçãs que são ricos em pectinas (substância gelatinosa com grande poder de conservação)

·       Para os produtos que  vamos preparar ( compotas, geleias e pastas),vamos usar os métodos tradicionais que são simples  e nos oferecem garantias de bons resultados.


 
Compotas                                                

 As compotas constituem o conjunto dos doces, cujos frutos são conservados por meio da calda de açúcar, como regra os frutos são cortados aos bocados, macerados no açúcar e são levados à fervura neste, até obterem o ponto de estrada e ficarem  quase desfeitos, alguns precisam de adiçam de conservantes.



       Geleias:                                                   
 


 
As geleias são obtidas pele extração de pectinas, através da fervura,
caso dos marmelos e das maçãs ou pelo sumo dos frutos e adição
de pectinas e outros conservantes, quando estes são pobres nelas. 
As pectinas extraídas dos frutos,  são levadas à fervura  juntamente
com os  aromas e com o açúcar até se obter  o  ponto desejado.                                 
 

                       
Pastas:              

       As pastas resultam da polpa da fruta cozida, passada e colocada
      em calda de açúcar levada a ponto geralmente alto (ponto de
      rebuçado 125º ou ponto de areia141º). Casos em que os frutos
      sejam pobres em pectinas ou ácidos conservantes, estes têm que 
      lhes  ser adicionados.                                 

 

 

5. EQUAÇÃO  DE PESOS  E MEDIDAS

 
O receituário de conservação e preparação de frutos que vamos seguir,  está baseado nos ensaios feitos para obtenção do registo de  «Mimos da Terra».

 A unidade de medida usada é o grama, sendo as medidas de volume (dl e lt) convertidas em medidas de peso (g e kg).

 Como regra, salvo algumas exceções,  as receitas do mesmo usam como medida padrão, 1 kg de fruta preparada (aquela que se deita na panela para fazer o doce) para o açúcar que lhe vier a corresponder.

 Se quisermos  confecionar outra quantidade, maior ou menor, bastará equacionar os pesos da fruta com o açúcar, por exemplo:

 Se para 1kg de fruta  é  necessário 750g de açúcar,  para 2,4 kg de fruta é necessário  uma quantidade de açúcar correspondente.

 Então faz-se uma equação muito simples, a que se chama regra de três:

Multiplica-se o novo peso da fruta (2400g, neste caso)   pelo peso de açúcar (750g) e divide-se este resultado pelo primeiro peso da fruta (1000g). Assim se obtém o peso respetivo do açúcar que é igual   a 1800g. O processo é sempre o mesmo.

 

Maneira prática de equacionar  o problema:

                                               1000_________750

                                               2400_________?

O problema está equacionado.

Se para 1000g  é  preciso 750g,   para 2400g  é preciso  multiplicar em cruz

                                                            2400 x750/a dividir por 1000 =1800

 

  Os ingredientes de cada receita referem-se à parte edível (comestível). Tomemos por exemplo a maçã que tem em média 80% de parte edível, consultar a Tabela da Composição de Alimentos.

 Se a maçã  inteira pesar 120g, por exemplo, voltamos a fazer ma mesma equação: 120 (peso da maçã) x 80 ( percentagem de parte édivel.) /100 = 96 g. São estes 96g e não os 100 que contam para a fruta que vamos trabalhar.

 Estes cálculos podem interessar para a compra, porque para a confeção do doce , basta

descascar  a fruta e limpa-la  de sementes ou que houver a limpar e pesar a parte limpa conforme se demonstra na imagem seguinte. 

 
6. CÁLCULO DOS NUTRIENTES

As receitas de doces, ou outro tipo de conservação de fruta de «Mimos da Terra», são todas complementadas com um  quadro  de cálculos do valor nutritivo dos macronutrientes ( cal., prot., gord., h.c., f. a.) de cada ingrediente, ainda que para identificação em rótulo se indique apenas as calorias, por neste caso, ser o indicador mais importante.

 Processo para calcular o valor energético do  doce de fruta

1º Passo: -depois de preparados  os alimentos pesa-se  a parte edível e toma-se nota do peso. Pesa-se a vasilha onde ele vai ser colocado (frasco ou tigela) e toma-se nota do peso vazio que é a tara.

 Depois do doce pronto e envasilhado, pesa-se a mesma vasilha, desconta-se o peso da tara e obtém assim  o peso líquido.

2º Passo: - constrói-se o quadro do valor nutritivo, baseado na Tabela da Composição de  Alimentos, indicando os nutrientes correspondente a cada ingrediente da receita. Somam-se estes e dividem-se pelo rendimento da receita ( o peso, em gramas,  do produto acabado), ficamos a saber o valor de cada grama. Multiplicamos por 100 e ficamos a saber o valor dos nutrientes por cada 100g.

7. PROCESSOS  DE ENVASILHAMENTO:

As vasilhas, frascos ou tigelas, deverão  estar eximiamente limpos e secos, principalmente se estes forem  para conservação de longo tempo.

Esta operação é muito importante. A primeira lavagem das vasilhas deve ser feita com detergente, a  seguir passadas  por lixivia pura, bem retirada em água corrente, seguidamente escaldadas com água a ferver e secas no forno a temperatura baixa ou no micro-ondas, sem que nada lhe toque no interior.

 As tampas devem ser igualmente lavadas, escaldadas e passadas com uma compressa de álcool.

É conveniente que os doces sejam enfrascados bem quentes, os frascos imediatamente fechados e invertidos de boca para baixos, para que se crie o vácuo capaz de impedir o desenvolvimento de bactérias perniciosas à conservação do produto.

 A alta temperatura a que o produto entra no frasco, funciona como um processo de esterilização, ainda que  menos eficaz que a esterilização completa. Vamos chamar-lhe esterilização rápida, para o diferenciar do processo clássico a que  chamamos  esterilização completa.

No  processo  de esterilização completa, o produto é enfrascado, o frasco  hermeticamente fechado e de seguida vai à fervura  durante 20 minutos.

No caso das pastas que são normalmente colocadas em tigelas, estas devem ser colocadas ao ar seco para que criem crosta protetora do produto, devendo depois de arrumadas, continuar a receber ar seco impeditivo de que se criem bactérias,

 8. ROTULAGEM:

O rótulo deve identificar o produto: com o nome, os ingredientes, a data de confeção, e se o quisermos mais completo,  com o peso e o valor energético.

Para os rótulos pode comprar-se etiquetas já com essa finalidade ou fazer-mos os nossos próprios rótulos personalizados.

 

Exemplo de um rótulo personalizado:

                  
9.  ARRUMAÇÃO:

A arrumação é a última etapa do  trabalho que nos propusemos realizar.

 
 
O lugar de arrumação deve ser fresco e arejado, esta operação é igualmente importante para a conservação dos doces (compotas, geleias ou pastas), bem como conservas salgadas, ácidas ou picantes.

Tudo pode ter sido feito com perfeição, mas se a arrumação não for bem cuidada, em condições  de arejamento,  libertas de humidade e em temperaturas moderadas, a conservação dos produtos fica fragilizada, podendo sofrer alteração e ficar mesmo impróprias para consumo antes do tempo de durabilidade previsto.

Obs:

§  Podemos  também, se preferirmos, arrumar o doce no frigorifico, e em alguns casos com vantagem. Todos os cuidados tidos com a embalagem , ainda que sejam importantes para o produto até ao fim do seu consumo, valem principalmente até à abertura do frasco.

§  Depois de aberto,  há conveniência em mantê-lo no frigorífico, principalmente para os produtos mais suscetíveis à alteração com o ar e, se permanecer aberto por  muito tempo.

§  Se optarmos  por congelar o doce podemos  conserva-lo até mais de um ano, tendo no entanto, que ter os mesmos cuidados quando o abrirmos  para uso.

                                             

MARMELADA
                                              


 

 

                       

Ingredientes
Quant.   
Marmelo
1kg
Açúcar
1kg
Água
1,5lt
 
 

                                                                                  

Confeção:

·        Prepara-se uma panela com  água e  sumo de limão, lavam-se os marmelos, cortam-se em quartos e  introduzem-se rapidamente  na panela sem descascar nem retirar as sementes, tapa-se a panela  e deixa-se cozer. Pode também cozer-se inteiros, somente lavados.

·       Depois de cozidos, escorrem-se da água, retira-se a polpa   e a pele que for possível,

passam-se  os marmelos pele rede média do passe vite, pesa-se a polpa e toma-se nota do peso e tapa-se, para que não oxide mesmo depois de cozida..

·       Leva-se o açúcar ao lume ( o mesmo  peso da polpa) com 1/3  seu volume de água e deixa-se obter ponto de espadana.

·       Junta-se  a polpa, mexe-se  bem para que esta fique bem envolvida no açúcar, deixa-se  iniciar a fervura continuando a mexer.

·       Retira-se  a marmelada do lume, bate-se bem e deita-se em tigelas devidamente lavadas, escaldadas e secas, tendo pesado cada uma delas e retirado a tara.

·       Pesa-se  a marmelada e pode calcular-se o valor energético.

·        Deixa-se arrefecer, cobrem-se as tigelas com uma gaze e deixa-se a marmelada secar ao ar.

·       Quando se apresentar seca, cobrem-se  as tigelas com papel vegetal, colocam-se  os rótulos e arrumam-se  em lugar fresco e seco.

Alimentos
Quant.
V.E.
Prot.
Gord.
H.C.
F.A.
g
Kcal.
g
g
g
g
Marmelo
1000
390
3
2
93
60
Açúcar
1000
3910
-
-
993
0
Total
2000
4300
3
2
1086
60
Nutrientes por 100g ≈
287
0
0
72
4
Rendimento da receita ≈ 75% = 1500g

 

 

 

 

Obs:

§  Esta é a receita da marmelada  clássica.  Modernamente,  também se faz  pelo processo  da panela de pressão, onde se colocam os marmelos descascados e cortados aos bocados, juntamente com o açúcar
       e ½  dl de água  por cada quilo de marmelo e de açúcar.

§  Fecha-se  a panela e vai a ferver 5 minutos . Passando a pressão  abre-se a panela e  tritura-se o marmelo  com a varinha mágica.

§   É um processo muito  prático,  mas em nossa  opinião  a marmelada não fica tão boa.


 


Recomendação:

Pode guardar-se a água de cozer os marmelos para fazer geleia, no frigorífico conserva-se  uma semana sem problema,  se for por  mais tempo  convém congelar-se  para se  utilizar  quando for necessário.

                                                                                                                                     O meu abraço,  Palmira